Quando a saudade nao cabe mais no peito transborda pelos olhos

Eu não mudo as minhas moradas, só porque uma têm um nome menos sonante, sabes? Eu não aprendi essa moda de renegar os caminhos que percorri. Talvez seja antiquada, mas penso sempre, que todos eles de forma distinta me moldaram o corpo nos embates. Que de uma forma ou de outra tatuaram todos mais umas ruas no mapa que os meus pés engolem. Não é um capricho comparável às colecções de latas de refrigerante ou pacotes de açúcar, sabes? É mais, é como se de um código genético se tratasse. Sem nada ter de genético ou de códigos postais. São escolhas que fiz, sentenças que executei. Envolvem triagens, saltos, esfoles nos joelhos e nos cotovelos. Das roupas leves aos cachecóis. Também não sou daquelas que tapa uma fresta da alma e deixa a outra à vista. Talvez já tenha sido numa outra altura, mas agora já não. Não preciso de fazer triagens do que vou mostrar de mim aqui ou do outro lado da rua. As pessoas têm mais medo de almas abertas do que de corações disponíveis. E suscita-lhes mais interesse como a um bando de corvos corações em ferida do que corações que dissertam. Então, eu já não tenho medo de me mostrar. Já ninguém escuta mesmo os corações e as almas escancaradas ainda que só se veja o hall assustam demasiado. Patrícia Ruivo